domingo, 21 de outubro de 2012

SDM Entrevista Marcelo Rodrigues

Falandod e um dos criadores do 1° RPG nacional


Nunca, nem nos meus sonhos mais loucos eu me imaginaria um dia conhecendo e conversando com Marcelo Rodrigues, que na época em que eu conheci o Tagmar era pra mim meio como um tipo de “semideus” que vivia num castelo entre as nuvens hahahaha!
Bem, tive a sorte de conhecê-lo em um dos melhores eventos de RPG do Rio, o X3 Zobe, em uam de suas palestras sobre o Tagmar II, realizado no clube América na Tijuca e de lá para cá posso dizer que ele esta na lista de meus amigos favoritos, assim como sua linda família que tive a oportunidade de conhecer.

Mas depois de anos de amizade, me toquei que além das minhas mesas no Saia da Masmorra, ainda não tinha escrito nada sobre o Tagmar e não tinha compartilhado com outros amigos e entusiastas do hobby os pormenores da criação do 1° RPG Nacional e do 1° RPG nacional gratuito aberto o Tagmar II e nem de seu criador, o nosso “Gary Gygax” brasileiro.

Melhor do que escrever, resolvi fazer uma entrevista com Marcelo, que gentilmente nos brinda com detalhes sobre o jogo e sua vida. Digo “nos brinda”, porque para aqueles que não tiveram chance a sorte de conhecê-lo pessoalmente, Marcelo é um sujeito alegre, um cara do bem, entusiasmado que ama seu hobby e trabalha duro para fazer do projeto Tagmar 2 uma realidade. Mas vamos para com a rasgação de seda e vamos a entrevista, com vocês, Marcelo Rodriguês co-criador do Tagmar o 1° RPG nacional.

 Marcelo Rodrigues á direita mestrando em nosso evento.

Quem é Marcelo Rodrigues?

Nascido 1965 em Belém-PA, mas em 1972 se mudou para o Rio de Janeiro. Engenheiro de Computação, Casado com 2 filhos. Atualmente trabalha em uma empresa de desenvolvimento de Software atuando como gerente de projeto e arquiteto de software.


 Caixa do Tagmar 2ed, uma raridade do meu acervo.


Como foi seu primeiro contato com os jogos de PRG?

Comecei a jogar RPG em 1985 (AD&D) quando entrei na faculdade. Naquele ano teve um greve de professores que durou 3 anos e foi aí que me tornei um grande fã de RPG.


Capa Tagmar 2ed. este eu também guardo com carinho, vem dentro da caixa acima.


 Na sua época de jogador, antes da criação do Tagmar, quais eram seus jogos de RPG preferidos?

Jogávamos AD&D e Star Frontiers.

Como começou a idéia de produzir no Brasil um livro de RPG?

Quando chegou no final dos anos 80 eu percebi que a mecânica de jogo dos RPGs não era nada de especial. Na época tinha um grupo e a pessoa que mais conhecia RPG era o Ygor (um amigo meu). Trocamos umas ideias e percebemos que não seria difícil fazer um RPG, e melhor ainda... se fosse feito estaríamos sozinhos no mercado! A oportunidade comercial era ótima. Foi assim que surgiu a ideia de fazer um RPG Nacional. O projeto levou 3 anos e foi necessário mais 2 pessoas para se juntar a nós. Criar o sistema do Tagmar foi fácil... Escrever um manual de regras de 200 páginas que incluía a ambientação, magias e criaturas... Isto sim foi muito difícil.


Capa do Tagmar - Marcelo conta na época da 1° ed. o livro era "autodestrutivo" e que ele e os sócios montavam as páginas em ordem na GSA a mão antes de encadernar.

Como foi essa tarefa sem os recursos de produção gráfica atuais?

Foi muito difícil, mas usamos um software de editoração (Ventura Publisher) que era para DOS que rodava em um XT. Imprimíamos em uma laser e a impressão ainda usou fotolitos. Arcaicos para os padrões de hoje, mas na época foi revolucionário. Muitas editoras da época ainda usavam métodos mais antigos de fotocomposição.

E a família? Como foi o envolvimento da família neste processo?

Na época eu era solteiro e minha família (meus pais) me apoiaram na iniciativa,

Qual a Historia da GSA?

A GSA foi a editora que os autores do Tagmar fundaram para lançar os livros que estávamos criando. Depois incluímos os livros do pessoal do Desafio dos Bandeirantes e do Millenia ao portifófilo da editora.

 Monstros, a base para todos os mestres. O Tagmar tinha o seu manual também.

Quais foram os títulos lançados pela GSA e seus respectivos autores?

Publicamos 6 livros para o Tagmar (Manual de Regras, Livro de Criaturas, O Arado de Ouro, A Fronteira, O Império e O Estandarte Sangrento). Para o Desafio dos Bandeirantes foram 3 e para o Millenia 1. Ainda publicamos um livro jogo baseado em um filme brasileiro, chamado de A Vingança de Magmor.

Porque você acha que GSA não foi para frente como editora no mercado de jogos?

Retorno financeiro. Éramos quatro sócios e o retorno financeiro era baixo. Simplesmente não dava para viver de RPG, principalmente porque o mercado entrou em crise no fim dos anos 90. A GSA não faliu. Apenas fechamos, já que não tínhamos dívidas.


Outra raridade de minha coleção, fica ao lado dos meus Aventuras Fantásticas.



Como foi que começou o projeto Tagmar 2, aberto e gratuito para o público de língua portuguesa?

Em 2004 descobri que um grupo tinha colocado umas copias scaneadas do Tagmar em um site. No inicio fiquei muito chateado e entrei em contato com os responsáveis pelo site e pedi para retirarem, mas avisei que iria conseguir a autorização. Reuni os autores do Tagmar e consegui a autorização. Infelizmente este grupo não levou adiante a ideia e acabei por assumir isto. Começou bem modesto com um grupo no YahooGrupos, mas incrivelmente surgiu pessoas de tudo que foi lugar do Brasil e em pouquíssimo tempo passamos a ter dezenas de pessoas colaborando. Tanto que o Tagmar 2 foi lançado em apenas 1 ano de trabalho

Como é gerenciar tantas cabeças produzindo material para o projeto?

Não é nada fácil. Na verdade levar um projeto “open source” é bem difícil, já que manter o pessoal motivado por tanto tempo não é nada fácil. Mas dá um enorme prazer em ver como podemos produzir tanto material e em nível profissional. Já passamos de 30 títulos e parece que vamos chegar aos 40 em breve.



 O Arado de Ouro - Qualidade gráfica do material original da GSA era realmente boa, para época era melhor até que muitos suplementos importados.



Você considera o Tagmar um RPG Oldschool?

Não. O Tagmar agora é um RPG que se encaixa nos padrões atuais. Nosso trabalho foi justamente modernizar o sistema. Ele tem aparência de oldschool, mas o sistema em si não.

Quais são as perspectivas para o futuro?

As perspectivas do Tagmar 2 são bem promissoras. O Tagmar 2 é um produto que já nasceu digital, e agora com a popularização dos e-readers, tablets e NetPcs, cada vez mais as pessoas estão se acostumando a não ter versões impressas. A Wikipédia foi a pioneira... agora nos dias de hoje... quem quer comprar uma enciclopédia?

Algumas palavras para público RPGista a nova Geração?

Acreditem no RPG Brasileiro. Nossos autores são tão bons quanto os estrangeiros!


Bem é isso aí pessoal, espero que gostem e fiquem com Deus!

Luciano Mota "Tolkien" Bastos

3 comentários:

  1. Marcelo é um dos caras mais gente boa que tive o prazer de conhecer em eventos.

    A GSA foi a editora mais importante do país em RPG, mais do que a DEVVIR, na minha humilde opinião, porque não se propunha a reproduzir conteúdo importado, mas a produzir autores nacionais.

    E isso, em um país que não dá incentivos decentes a novos leitores e sobretudo, a escritores, é de uma enormidade espantosa.

    Tagmar não é apenas "história", no melhor sentido, mas é, ainda hoje, um RPG interessante, gostoso de jogar, e que é sempre um prazer participar ou assistir uma mesa com o sistema.

    Belíssima entrevista, meu caro Tolkien.

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  2. É, realmente fica aqui a omenagem ao amigo Marcelo e seu trabalho com o projeto Tagmar 2 que permite que jogadores de lingua portuguesa do mundo todo joguem um bom RPG gratuito.

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  3. Realmente temos bons escritores de rpg em solo nacional produzindo material de qualidade. MightyBlade por exemplo... Em fim d20 system pode ate ser melhor e o mais jogado.... Afinal foi trabalhos de anos. Mas os unicos rpgs que me faz me sentir sempre inspirado sao muitas fas vezes esses nossos rpgBR

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